sábado, 2 de setembro de 2017

Um acordo à vista entre a Santa Sé e Israel



Num comunicado conjunto da Santa Sé e Israel, datado de 13 de Junho, mas divulgado há poucos dias pelo Vaticano, fala-se sobre uma possível e rápida conclusão das negociações e na assinatura do acordo que regulará as questões financeiras e os direitos de propriedade da Igreja Católica em Israel.

No final da sessão plenária da Comissão Bilateral Permanente de Trabalho entre a Santa Sé e o Estado de Israel ficou evidente a satisfação face aos progressos alcançados. A reunião foi co-presidida por Mons. Antonio Camilleri, na qualidade de Sub-Secretário para as Relações com os Estados e pelo ministro israelita de cooperação regional, Tzachi Hanegbi.

Um longo caminho foi percorrido para chegar até aqui. Para entender melhor, é preciso lembrar que o que está a ser negociado já estava previsto pelo - Acordo fundamental - assinado entre as duas partes em 30 de dezembro de 1993, um quarto de século atrás.

As negociações (intermináveis) da comissão bilateral foram lançadas de facto em 1999; interrompidas em 2014 e retomadas em Janeiro deste ano. Dizem respeito ao reconhecimento dos direitos jurídicos e patrimoniais das instituições católicas e questões que envolvem as isenções fiscais das quais a Igreja já era beneficiária antes da criação do Estado de Israel em 1948 (como, por exemplo, o tema do pagamento - ou não - dos impostos sobre a propriedade imóvel eclesiástica, mas também o regime fiscal a ser aplicado às casas de acolhimento de peregrinos e subsídios que podem beneficiar escolas e hospitais). Um dos pontos mais emblemáticos, certamente, é o que envolve o Cenáculo.

A Igreja - e, em particular, a Custódia da Terra Santa - ainda tem em mãos os documentos que atestam a sua propriedade histórica, mas a geopolítica destes últimos 70 anos tem complicado o conteúdo das reivindicações de uns e de outros. Pela sua parte, a Igreja tem mostrado a sua boa vontade, declarando-se pronta para discutir os direitos de uso em vez de continuar a reinvindicar a propriedade.

O acordo bilateral que pode ser assinado em breve entre a Santa Sé e Israel segue um acordo semelhante alcançado em junho de 2015 entre a Santa Sé e o Estado Palestino. Um acordo que consagra a liberdade de ação da Igreja na Palestina e alcança questões como, a jurisdição eclesiástica, lugares de culto, actividades sociais, os meios de comunicação social, as questões fiscais e os direitos de propriedade. O acordo entrou em vigor em 2 de Janeiro de 2016.

A actual fase de negociações entre o Estado Judeu e a Sé de Pedro, coincide com um momento em que, em Jerusalém, há rumores de uma nova peregrinação do Papa Francisco  à Terra Santa. Há um outro elemento a considerar: Israel visa alcançar um lugar como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas no biénio 2019-2020. Um objetivo difícil de ser alcançado pelo Estado judaico, considerando que para entrar, é preciso obter dois terços do consenso da ONU na Assembleia Geral e que esta provavelmente não poderá contar com votos de nações árabes. A assinatura de um acordo com a Santa Sé poderia talvez influenciar positivamente os países predominantemente católicos da América Latina e África.

Uma última palavra: nesta longa negociação bilateral não é a primeira vez que lemos tons positivos em um comunicado da Comissão; assim, a prudência é obrigatória.

de Christophe Lafontaine |  15 de Junho de 2017

www.terrasanta.net

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