terça-feira, 12 de setembro de 2017

O Conflito Israelo-Árabe 22, 23, 24 e 25

A maioria dos colonatos começaram a ser instalados depois da guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel ocupou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Os primeiros foram logo instalados nesse ano pelo governo trabalhista como parte de uma política de colonização.


A maioria dos colonatos foi construída na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Os colonatos construídos no Sinai foram desmantelados em 1997, após o acordo de paz com o Egipto, e os da Faixa de Gaza foram abandonados em 2005, depois de Israel ter decidido unilateralmente retirar por completo desse pedaço do território.

Os colonatos são de diferente tipo. Alguns, sobretudo na área de Jerusalém, são colonatos urbanos, zonas de subúrbio habitacional. Os outros são sobretudo colonatos agrícolas ou aquilo que se designa por aldeias de fronteira, estando nesta categoria alguns dos que foram construídos no vale do Jordão.

Apesar de, logo em 1967, uma parte da migração ter sido justificada com o regresso dos judeus a locais que tinham ocupado antes da guerra da independência, a maior parte dos colonatos são novas instalações.

A expansão dos colonatos na Cisjordânia retalhou este território, tornando difíceis as deslocações sobretudo desde que os israelitas construíram vedações e muros de separação.

Qualquer perspectiva de resolução para aquela região implica que se encontre que se encontre uma solução para os colonatos. Talvez seja possível, relativamente aos que se situam mais próximo da chamada “linha verde” – a linha do armistício no final da guerra da independência, em 1948 – redesenhar a fronteira, trocando terras, isto é, entregando Israel aos palestinianos terras situadas do lado judeu dessa “linha verde”. Esse cenário já foi trabalhado e negociado entre as parte, mas nunca se chegou a propostas viáveis. Mesmo assim Israel terá sempre de abandonar a maioria dos colonatos, e alguns são muito populosos, ao contrário do que sucedia no Sinai e na Faixa de Gaza.

Há também dificuldades políticas. Alguns dos partidos israelitas sem os quais não se consegue formar uma maioria de governo defendem a ideia de que a Cisjordânia – as terras bíblicas da Judeia e Samaria – são parte inalienável de Eretz-Israel, e por isso nunca deverão ser cedidas aos palestinianos. Os colonos também têm um partido político com representação parlamentar e são politicamente muito activos.

Em contrapartida Israel está totalmente isolado na sua política face aos colonatos. Já foi condenado duas vezes nas Nações Unidas e nem os seus aliados ocidentais apoiam a expansão desta forma de ocupação apesar de o lançamento de novas construções nunca ter verdadeiramente parado.

Actualmente vivem mais de 300 mil judeus nos colonatos da Cisjordânia e mais 200 mil nos que foram construídos nos subúrbios Jerusalém Oriental.

O principal aliado de Israel continuam a ser os Estados Unidos, mas nem sempre foi assim.

Quando Israel se tornou independente a posição americana foi ambígua. Por um lado, o presidente Harry Truman apressou-se a reconhecer o no Estado, assim permitindo que os Estados Unidos fossem os primeiros a fazê-lo. Mas, ao mesmo tempo, os Estados Unidos recusaram-se a vender as armas de que o jovem Estado necessitava para se defender dos exércitos árabes que tinham atacado imediatamente a seguir à proclamação da independência.

Nessa altura, depois de não ter conseguido apoios na Europa Ocidental, David Ben-Gurion virou para a União Soviética e acabaria por conseguir as armas de que necessitada junto da Checoslováquia. Estaline via com bons olhos um Estado que nascia sob a direcção de políticos fortemente ancorados à esquerda, todos de tradição trabalhista e marxista, regime esse que enfrentava países árabes ainda governados por monarcas que Moscovo via como reaccionários.

No período que vai da independência até à Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel tem como outro grande aliado a França, que lhe forneceria os aviões Mirage que se revelariam decisivos nessa campanha militar.

Mirage III - Força Aérea Israel
A Guerra dos Seis Dias provocaria uma alteração radical do sistema de alianças. A União Soviética, que entretanto começara a apoiar os regimes árabes resultantes dos golpes militares que haviam derrubado as monarquias tradicionais, retirou todo o apoio a Israel e obrigou os países satélites, incluindo a Checoslováquia, a interromperem todo o qualquer fornecimento de armas. A França do general De Gaule também se voltou contra Israel e cortou-lhe todo o apoio.

Ao mesmo tempo, uns Estados Unidos preocupados com o expansionismo soviético na região, e com a sua crescente influência junto de regimes como o de Nasser (Egipto) e Assad (Síria), abriu-se a Israel. Seis anos depois, em 1973, aquando da guerra do Yom Kippur, já seriam os EUA os principais fornecedores de armas a Israel, com a nossa base das Lages a servir de vital ponto de reabastecimento durante o período em que durou mais essa guerra. Esse alinhamento não se alterou até hoje, se bem que a administração Obama tenha marcado maiores distâncias do que era prática das anteriores administrações.

A nível regional Israel conseguiu normalizar a sua relação com o Egipto, graças ao acordo de paz de 1979, e mantém com a Jordânia uma coexistência relativamente pacífica. A relação com a Turquia, país membro da NATO, já conheceu melhores dias, tendo-se degradado desde que este país é governado por um partido islamista.

A maioria dos países árabes continua a não reconhecer a existência de Israel, mas desde a vitória israelita na guerra do Yom Kippur (1973) que o cenário de uma guerra convencional não se coloca.


Israel assinou, em 1979, um acordo de paz com o mais poderoso dos seus vizinhos, o Egipto. Esse acordo, negociado em Camp David sob os auspícios do presidente norte-americano, foi firmado por Anwar Sadat, pelo lado do Egipto (seria assassinado pouco tempo depois), e por Menachem Begin, pelo lado de Israel (Begin vinha da direita e fora líder dos sionistas radicais do Irgun). Por via desse acordo Israel devolveu ao Egipto a península do Sinai, que tinha ocupado durante a Guerra dos Seis Dias.

O segundo vizinho mais poderoso de Israel tem sido, tradicionalmente, a Síria, que continua bastante hostil mas que se encontra paralisada por uma guerra civil. O regime de Damasco está estrategicamente alinhado com o Irão, o inimigo de Israel mais vocal da região. Os montes Golã, no sul da Síria, continuam ocupados pelo exército judaico.

As relações com o Líbano são mais complexas, pois este país encontra-se profundamente dividido entre várias facções. O sul está nas mãos das milícias do Hezbollah, aliadas do Irão e armadas pelo Irão, que utilizam as suas bases junto à fronteira para realizar ataques, nomeadamente lançando rockets que contra as cidades e aldeias do norte de Israel.


Jordânia, o único país da região que dá cidadania plena aos palestinianos que lá vivem, também já assinou um acordo de paz com Israel. Foi em 1994, sob os auspícios de Bill Clinton, que Yitzhak Rabin apertou a mão a Hussein I da Jordânia. Entretanto os dois países também restabeleceram relações económicas.

A 23 de Abril o Fatah (dominante na Cisjordânia) e o Hamas (maioritário na Faixa de Gaza) assinaram um acordo destinado a ultrapassar as divisões que têm impedido a formação de um governo único nas zonas sob controle da Autoridade Palestiniana. Não é a primeira vez que isso sucede: em 2011 e 2011 a Fatah e o Hamas também tinham assinado acordos que, depois, não conduziram a lado nenhum

In, http://veja.abril.com.br
Nos termos deste acordo os dois movimentos palestinianos comprometiam-se a formas um governo de unidade nacional num prazo de cinco semanas e a organizar eleições para a Presidência e para o Parlamento num prazo de seis meses (as últimas eleições foram em 2006).

Para este acordo funcionar e, depois, permitir a criação de uma nova base para as negociações com Israel, é necessário que o Hamas se comprometa a reconhecer a existência do Estado judaico dentro das fronteiras anteriores a 1967, que aceite o princípio dos dois estados e que se comprometa com todos os acordos entretanto assinados pela Autoridade Palestiniana. Apesar de ter havido algumas garantias de que são esses os compromissos do Hamas, a verdade é que isso ainda não foi assumido publicamente de forma formal.

Israel desconfia profundamente desta evolução do Hamas e, quando foi anunciado o acordo, suspendeu de imediato as negociações que vinha a fazer com a Autoridade Palestiniana.


Seja lá como for, os primeiros prazos estabelecidos no acordo de 23 de Abril já foram ultrapassados sem que os seus objectivos tenham sido cumpridos.

O essencial para entender 
o conflito israelo-palestiniano
José Manuel Fernandes

Observador – 14 de Julho de 2014

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