quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O Conflito Israelo-Árabe, 26 e 27

Nos últimos anos o exército israelita tem intervindo com alguma regularidade na Faixa de Gaza para conter o contínuo rearmamento do Hamas e da Jihad islâmica e outros grupos radicais. O contrabando de armas através da fronteira de Gaza, em especial através de túneis que os egípcios não conseguem controlar, nunca cessou verdadeiramente. É aliás voz corrente que, nos dias de governo da Irmandade Muçulmana no Cairo, a situação foi muito favorável ao Hamas e seu rearmamento.

A última dessas operações decorreu entre 14 e 21 de Novembro de 2012 e terminou com um acordo de cessar-fogo mediado pelo governo do Cairo.

No último mês o número de mísseis sobre Israel vinha em crescendo. Porém, a actual crise começou com o rapto de três jovens israelitas na Cisjordânia a 12 de Junho. Os seus corpos mutilados seriam descobertos a 1 de Julho, existindo a convicção de que o rapto e assassinato foi perpetrado por uma facção ligada ao Hamas. Os responsáveis ainda não foram descobertos.

No dia seguinte, 2 de Julho, é a vez de um jovem palestiniano ser raptado e morto em circunstâncias horríveis (foi queimado vivo). Rapidamente se descobriu que o crime fora obra de um grupo de seis jovens extremistas israelitas (entre os 16 e os 22 anos), que foram detidos pelas autoridades.

De imediato o Hamas disparou mais de 100 mísseis contra território de Israel. Alguns desses mísseis são já bastante sofisticados, tendo caído a 160 quilómetros a norte da fronteira, já perto de Haifa.

Como resposta a este ataque vindo da Faixa de Gaza, Israel lança nova operação contra aquele território visando as infraestruturas que suportam o disparo de rockets e mísseis – desde o início do mês e até ao dia 13 de Julho já foram disparadas contra o território de Israel mais de 800 desses projécteis, que caem indiscriminadamente em zona habitacionais, em terrenos agrícolas ou em instalações industriais.

Iron Dome

A operação israelita, designada “Escudo protector”, mobilizou já 40 mil reservistas e, segundo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, durará o tempo que for necessário.

A ofensiva terrestre que Israel desencadeou contra a Faixa de Gaza na noite de 17 para 18 de Julho tem como objectivo principal destruir uma infraestrutura de túneis com a qual o Hamas e outras organizações estavam a tentar infiltrar o território de Israel.

A Faixa de Gaza está limitada por uma vedação que é permanentemente vigiada pelo exército israelita, existindo apenas alguns, poucos, pontos de passagem e fronteira. Desde que se retirou completamente de Gaza em 2005, e abandonou os colonatos aí existentes, entregando a administração integral do território à Autoridade Palestiniana, que Israel enfrenta ataques vindos de Gaza. Os mais frequentes são os lançamentos de rockets, cujo alcance tem vindo a aumentar, e as tentativas de infiltração de militantes radicais capazes de desencadear acções no interior de Israel.

A forma escolhida pelo Hamas e pelas outras organizações radicais que operam em Gaza para realizar essas operações de infiltração tem sido a construção de túneis que passam por baixo da barreira de separação e terminam já bem dentro do território de Israel. A ameaça é real e, na passada terça-feira, o exército localizou e neutralizou um comando constituído por 13 militares do Hamas que já estava dentro de Israel, a apenas 10 minutos de marcha de uma comunidade agrícola localizada no sul do país, o Kibbutz Sufa. Esse comando tinha saído de um dos túneis construídos sob a barreira.

O exército israelita, IDF, divulgou entretanto imagens dessa operação:




A construção de túneis é habitual na Faixa de Gaza: no sul do território existem mais de 1200 dessas infraestruturas ligando Gaza ao Egipto, infraestruturas essas que têm sido usadas para todo o tipo de contrabando e também para levar para Gaza as armas que, depois, são disparadas contra Israel.

Neutralizar a estrutura de túneis, que a maior parte das vezes têm as suas entradas no interior de habitações, não pode ser feito a partir do ar, com ataques da aviação. E se Israel já desenvolveu a tecnologia que lhe torna possível defender-se das barragens de rockets – a “Cúpula de Ferro”, que localiza e abate no ar a maioria dos rockets disparados a partir da Faixa de Gaza –, o país não tem forma de localizar e neutralizar a infraestrutura de túneis.

De acordo com fontes militares citadas pelo Times de Israel, a missão das unidades que estão a ser enviadas para o interior da Faixa de Gaza é localizar as entradas desses túneis e neutralizá-los. Ao mesmo tempo os soldados que estão no terreno têm ainda como objectivo arrasar as rampas de lançamento de mísseis e rockets que, por estarem muito protegidas, não podem ser destruídas do ar. Trata-se de operações de alto risco, em que muitas vezes é necessário enfrentar militares do Hamas em combates casa a casa.

Ainda de acordo com as mesmas fontes, Israel não pretende reocupar Gaza ou estabelecer aí qualquer testa de ponte militar, antes pretende desarticular as infraestruturas que o Hamas e outros grupos radicais que operam naquele território têm construído nos últimos anos. Refira-se que, durante o período em que os seus aliados da Irmandade Muçulmana estiveram no poder no Cairo, o Hamas logrou reforçar o seu poderio militar, situação que se inverteu desde que o general Sissi tomou o poder: neste momento o exército egípcio voltou a fechar a rede de túneis entre Gaza e o Sinai, por onde passava muito do armamento destinado ao Hamas.

O essencial para entender 
o conflito israelo-palestiniano
José Manuel Fernandes
Observador – 14 de Julho de 2014

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