O Hamas foi fundado em 1987 numa altura em que o fundamentalismo islâmico ganhava rapidamente terreno em todo o Médio Oriente. A sua criação esteve ligada à Irmandade Muçulmana do Egipto, um dos grupos fundamentalistas mais fortes e mais antigo do mundo. A fundação do Hamas explorou igualmente o ambiente de extrema tensão e violência que caracterizou a primeira Intifada.
O programa inicial do Hamas era o estabelecimento de um estado islâmico nos territórios hoje ocupados por Israel, pela Faixa de Gaza e pela Cisjordânia. Mais recentemente dirigentes do Hamas fizeram referência a um estado circunscrito às fronteiras anteriores a 1967, mas sem o reconhecimento do Estado de Israel.
A carta de princípios do Hamas apresenta a luta contra Israel como parte da luta irreconciliável entre judeus e muçulmanos, contendo muitas expressão que não são apenas anti-sionistas, são anti-semitas. A organização também nega os factos históricos do Holocausto, que declara ser apenas uma criação da propaganda sionista.
O Hamas possui um braço armado, as brigadas Izz ad-Din al-Qassam, que continuam a recorrer ao terrorismo como forma de combaterem Israel. O recurso a atentados suicidas e o disparo indiscriminado de rockets direccionados zonas habitadas apenas por civis têm sido os seus métodos de combate preferidos.
A principal base do Hamas é na Faixa de Gaza, onde goza de apoio maioritário. Em 2006 o Hamas conseguiu mesmo vencer as eleições parlamentares palestinianas, mas depois não conseguiu chegar a um entendimento com a Fatah para a partilha do poder, o que levou a uma breve guerra civil – a Batalha de Gaza – que terminou com o Hamas a tomar conta daquela parcela de território e a expulsar de lá a Fatah.
As Intifadas foram revoltas que começaram de forma semi-espontânea e corresponderam a uma fase nova do conflito.
De 1948 a 1973, isto é, da Guerra da Independência à Guerra do Yom Kippur, Israel teve sobretudo que travar guerras convencionais, em que exércitos bem armados se enfrentaram nos campos de batalha, sendo que a vida quotidiana era constantemente pontuada pelos ataques dos fedayeen, nomedamente a partir de Gaza, do Egipto e da Jordânia, e pelas contra-respostas israelitas.
A partir de 1967 e da ocupação dos territórios, o terrorismo tornou-se a maior ameaça. Mas ninguém verdadeiramente foi capaz de prever o que se passou a partir de 1987, quando começou a primeira Intifada, a “revolta das pedras”. Entre Dezembro desse ano e Setembro de 1993, quando foram assinados os acordos de Oslo, a população palestiniana fustigou de forma permanente as forças de segurança e os militares de Israel. Tudo servia: pedras, coktails molotov, greves, manifestações, protestos, grafitti, boicotes, desobediência civil e por aí adiante.
A primeira Intifada foi desencadeada por um incidente banal: a colisão entre um camião do exército israelita e uma viatura palestiniana de que resultaram vários mortos. A informação de que o acidente fora deliberadamente provocado incendiou os ânimos e foi o rastilho da revolta. Esta espalhou-se rapidamente, mobilizou grande parte da sociedade palestiniana e, esmo sem ter uma liderança formal, foi muito influenciada por líderes civis que defendiam uma abordagem sem a violência que caracterizara os combates dos fedayeen e sem recurso ao terror.
Esta revolta, que Israel encarou num primeiro momento como devendo ser quebrada, acabou por provocar uma inflexão de políticas, mostrando que era mesmo necessário encontrar uma solução de auto-governo para a Faixa de Gaza e para a Cisjordânia, assim abrindo caminho aos acordos de Oslo.
A segunda Intifada, também conhecida como a Intifada de Al-Aqsa, iniciou-se em Setembro de 2000, depois de Ariel Sharon, então líder da oposição, ter realizado uma visita ao Monte do Templo, visita que foi interpretada como sendo uma provocação. Esta revolta palestiniana surgiu dois meses depois do falhanço da negociação de um acordo de paz definitivo numa nova cimeira em Camp David, um falhanço cuja responsabilidade foi genericamente atribuída à parte palestiniana.
Os primeiros dias da Segunda Intifada caracterizaram-se por numerosos confrontos entre manifestantes palestinianos e a polícia israelita, mas a violência escalou de nível depois de a população de Ramallah ter linchado dois reservistas israelitas que estavam detidos numa esquadra de polícia.
Os Acordos de Oslo previam uma retirada gradual de Israel da Faixa de Gaza e da Cisjordânia e a transferência gradual da soberania para a Autoridade Palestiniana. Num prazo de cinco anos esperava-se que as duas partes chegassem a um acordo de paz definitivo. Mas quase nada correu como estava previsto, sendo que ambas as partes culpam a outra pelo que correu mal.
Neste processo os palestinianos esperavam receber os seus territórios de volta e os israelitas viverem em paz e segurança. Ora nos cinco anos que se seguiram aos acordos o número de vítimas da violência não diminuiu: morreram 405 palestinianos e 256 israelitas, sendo que no caso dos israelitas esse valor ultrapassou largamente o número de mortes registado nos 15 anos anteriores, que incluíram os seis anos de primeira Intifada.
Politicamente, do lado de Israel, a evolução também não foi positiva, pois Rabin, que havia negociado Oslo, foi assassinado por um extremista judeu em 1995.
No final da década, sob mediação de Bill Clinton, houve um novo esforço para se chegar a acordo. Ehud Barak, o primeiro-ministro israelita de então, disponibilizou a Yasser Arafat, durante uma cimeira realizada em Camp David, um acordo que muitos viram como irrecusável. Mas Arafat recusou e, passados apenas dois meses, a região estava de novo mergulhada na violência da segunda Intifada. A bloquear o acordo esteve o estatuto de Jerusalém, a delicada questão da gestão do Monte do Templo/Esplanada das Mesquitas e o tema terrivelmente difícil do “direito de retorno”.
De então para cá pouco se tem avançado no processo de paz. Os últimos anos de vida de Arafat (morreu em 2004) foram de profunda desconfiança entre as duas partes. Como Ariel Sharon e Abbas houve avanços – Israel saiu unilateralmente de Gaza, houve acordo entre ambos para terminar a segunda Intifada – mas depois veio o conflito entre o Hamas e a Fatah, com a divisão da zona controlada pela Autoridade Palestiniana em duas metades rivais.
Entretanto Israel construiu uma extensa barreira de protecção que os palestinianos designam por “muro”. Na prática foi uma medida que quase acabou com ataques suicidas no interior de Israel.
Israel é um país de pouco mais de oito milhões de habitantes, sendo que três quartos da população (75%) é constituída por judeus. A população árabe corresponde a cerca de 20% do total.
Entre os judeus, sensivelmente metade são sefarditas (judeus oriundos da peninsula ibérica “histórica” e do Norte de África) e a outra metade ashkenazi (judeus da Europa Central e Oriental). Um sexto da população judaica tem as suas raízes na antiga URSS.
A esmagadora maioria dos árabes são muçulmanos, mas há uma pequena minoria de cristãos. Os árabes israelitas vivem sobretudo na Galileia, no norte do país, uma região onde se situa, por exemplo, a cidade de Nazareth, uma cidade que é habitualmente descrita como a capital árabe de Israel.
Entre os judeus tem vindo a aumentar a proporção dos judeus ortodoxos, pois as famílias que seguem as suas diferentes obediências têm tendência a terem mais filhos. Pela mesma razão tem vindo a aumentar a proporção da população árabe-israelita.
O essencial para entender
o conflito israelo-palestiniano
José Manuel Fernandes
Observador – 14 de Julho de 2014
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