O essencial para entender
o conflito israelo-palestiniano
José Manuel Fernandes
Observador – 14 de Julho de 2014
Arthur James Balfour (1840-1930) |
Em 1917, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Arthur James Balfour, enviou ao Barão Rothschild, para que ele entregasse ao movimento sionista, uma carta onde se escrevia:
“O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país”.
Lionel Walter Rothschild (1868 – 19379 |
Ainda hoje se discutem as motivações do governo britânico na época. Vivia-se a I Guerra Mundial e os dois campos adversários tanto procuravam atrair um máximo de simpatias dos judeus seus nacionais, como dividir os potentados árabes e virá-los contra o outro lado. Assim, por um lado, a declaração Balfour visava conseguir a simpatia dos judeus, muitos dos quais não suportavam a aliança com a Rússia Czarista, e, por outro lado, garantir que a emigração de judeus para a Palestina ajudaria a mitigar as consequências da tomada de poder sobre Constantinopla concedida aos mesmos russos por britânicos e franceses.
A declaração não foi recebida com entusiasmo pelo movimento sionista, pois nela não se falava em “Estado judeu”, apenas em “Lar Nacional”, mas revelar-se-ia decisiva para legitimar a emigração para a Palestina e, mais tarde, para dar uma base legal à reivindicação sionista, ao ser anexada ao Tratado de Sèvres (1920), que regulou o pós-primeira guerra no Médio Oriente. Foi esse tratado que traçou as novas fronteiras do Médio Oriente e entregou aos britânicos a tutela da Palestina. Iam iniciar-se as décadas em que, com mandato dado pela Liga das Nações, o Reino Unido iria administrar a estreita faixa de terra encravada entre o mar Mediterrâneo e o rio Jordão.
O essencial para entender
o conflito israelo-palestiniano
José Manuel Fernandes
Observador – 14 de Julho de 2014
Sir Moses Haim Montefiore (1784 - 1885) |
No final do século XIX não eram muitos os judeus que viviam na Palestina. Havia algumas colónias – como a fundada pelo financeiro e filantropo Moses Montefiori em meados do século nos arredores de Jerusalém -, mas a presença judaica era ainda pequena: quase metade dos 35 mil emigrantes que tinham chegado a partir de 1882 vindos da Rússia não se conseguiram fixar.
A estratégia sionista nas primeiras décadas so século XX foi a de promover a imigração para a Palestina, onde os novos habitantes começaram a chegar a pouco e pouco, comprando casas e terrenos, construindo novas aldeias e depois cidades – como Telavive, fundada em 1909 nuns terrenos desolados um pouco a norte do velhíssimo porto de Jaffa -, criando as cooperativas que mais tarde dariam origem aos kibbutz, onde se vivia num regime parecido com o comunismo primitivo numa base voluntária.
A migração para a Palestina, que inicialmente foi tolerada pelas autoridades otomanas, começou a gerar tensões no tempo do mandato britânico. Nessas décadas que vão de 1920 ao fim dos anos 40, sucederam-se revoltas árabes e judaicas, reivindicando ambas as comunidades o direito a constituírem um Estado independente. Os ingleses foram tendo cada vez mais dificuldade em controlarem a situação.
Como noutros locais, a História acelerou-se com a II Guerra Mundial. Do lado árabe, as principais autoridades, com destaque para o mufti de Jerusalém, optaram por uma aproximação à Alemanha nazi, daí esperando tirar vantagens para barrarem o caminho aos judeus. Do lado judeu a luta mais institucional conduzida pelo homens de Ben-Gurion foi desafiada pelo activismo radical do Irgun, o movimento nacionalista que não hesitava em recorrer a actos de terror no seu combate à presença britânica.
Quando a II Guerra terminou as autoridades britânicas tiveram de enfrentar um novo problema: uma enorme vaga migratória que partia dos portos do sul da Europa e que conduzia á Palestina milhares de judeus sobreviventes do Holocausto. A encarniçada oposição britânica ao desembarque de alguns barcos sobrelotados colocou terríveis dilemas morais às autoridades, que rapidamente se sentiram incapazes de continuar a gerir um território mergulhado numa guerra civil larvar que os soldados de Sua Majestade já não conseguiam conter.
A solução do conflito passou então para as mãos das recém-criadas Nações Unidas, de onde sairia, no final de 1947, o plano de partição da Palestina, dividindo-a entre um estado árabe e um estado judeu. A Agência Judaica aceitou esse plano, a Liga Árabe rejeitou-o.
A 14 de Maio de 1948, um dia antes de terminar o mandato britânico, David Ben-Gurion proclamou “o estabelecimento de um estado judaico em Eretz-Israel, que será conhecido como o Estado de Israel”.
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