quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A Custódia da Terra Santa - 2

Período de organização



Destinada a recolher o comando e a herança dos Cruzados, a Província da Terra Santa é agora lançada à conquista específica dos Lugares Santos e destinada a representar os interesses da Igreja Católica no Oriente. A sua existência jurídica é reconhecida tanto pelas autoridades eclesiásticas quanto pelas civis muçulmanas.
Em 1347 os franciscanos tomaram posse em Belém como habitantes oficiais da Basílica e da Gruta da Natividade. Em 1363, Joana, rainha de Nápoles e da Sicília obteve uma assinatura do Sultão do Egipto. Por força desta assinatura, os franciscanos alcançaram o direito de posse da Edícula e do Túmulo de Maria, no vale de Josafat. Em 1375, do convento de Belém, os franciscanos receberam também a posse da chamada Gruta do Leite, situada nas proximidades daquela da Natividade de Nosso Senhor. Em 1392, obtiveram o direito oficial da Gruta do Getsémani situada no vale de Josafat, a poucos metros do Túmulo de Maria. Em 1485, readaptaram o culto à Gruta da Natividade de São João Batista em Ain Karem.

Com o aumento dos compromissos, sentiu-se a necessidade de uma legislação adequada.
Em 1377, foram constituídos os primeiros Estatutos da Terra Santa. Esses deram um grande incremento às prescrições enunciadas na Bula Gratias Agimus, prescrevendo que o número de religiosos que prestavam serviço na Terra Santa não superasse os vinte. Naquilo que diz respeito à actividade, os frades deveriam ocupar-se, além do culto religioso nos santuários, deveriam atender também os peregrinos europeus que vinham visitar os Lugares Santos.
Em 1444, Lausana sediou o Capítulo Geral dos Frades Menores. Os capitulares, assim como nas assembleias gerais precedentes, trataram dos problemas da Terra Santa e deram-se conta que seria necessário transformar a Custódia num órgão mais autónomo do que uma simples Província. Além de ter que incrementar o numero de religiosos a seu serviço. Dezasseis anos mais tarde, exatamente em 1430, foi estabelecido que o Custódio da Terra Santa fosse eleito pelo Capítulo Geral, prática que foi mantida por três anos. Em seguida a eleição do Custódio da Terra Santa foi feita pelo Ministro Geral juntamente com seu Conselho, e esta norma respeita-se até os dias de hoje.

Em 1517 a Custódia da Terra Santa, por manter sua denominação, conquistou plena autonomia através da configuração à Província. Simultaneamente ao progressivo definir-se da figura jurídica, a Custódia obteve da Santa Sé particulares poderes e autorizações em diversos sectores, mas sempre em vista de uma presença mais dinâmica dos frades na Terra Santa. Os frades puderam assim empenhar-se mais, especialmente na assistência espiritual aos peregrinos, porém mais ainda na actividade ecuménica, que teve o seu primeiro grande momemto durante o Concílio de Florença (1431-1443). Nesta ocasião conseguiu-se a reconciliação entre os cristãos separados do Oriente e a Igreja Católica. Esta reconciliação logo se revelou transitória, e durante aproximadamente dois séculos, os franciscanos de Terra Santa, representaram quase que a única possibilidade “in loco” de relações directas e autorizadas do mundo católico com as Igrejas separadas do Oriente Médio. As relações com as Igrejas orientais continuaram mantendo-se vivas, até os dias de hoje, adequando-se às diversidades dos tempos e das situações juntamente com as inúmeras iniciativas da Santa Sé no intuito de reavivar os contatos e o espírito ecuménicos. Este apostolado especial, apesar das interrogações, não é reconhecido como realmente mereceria.

Outra atividade que lamentavelmente ficou na sombra da história dos franciscanos na Terra Santa é aquela da
assistência espiritual aos comerciantes europeus que residiam ou estavam de passagem nas cidades do Egipto, da Síria e do Líbano. Esta atividade que no início não era organizada e se dava conforme as oportunidades favoráveis foi melhor constituída. Na segunda metade do século XVI a assistência espiritual tornou-se mais ou menos contínua, até a assumir no século XVII um caracter estável, com a criação de residências para melhor atender as necessidades presentes. Os franciscanos que desde o início se haviam tornado capelães de Cônsules e de colónias comerciais europeias. Consolidando-se assim, como apóstolos a serviço de todos, “irradiando a luz do Evangelho” em torno de suas residências, que pouco a pouco, se configuravam em verdadeiras paróquias com inúmeras obras e actividades de todos os géneros.

A evangelização na Terra Santa, em alguns momentos da história, foi promovida até em favor dos fiéis da religião muçulmana, tanto em forma de evangelização pessoal como colectiva. Empenho este que sempre trouxe resultados diferentes, algumas vezes tendo como consequência a morte de alguns frades. Foram mortos, em 1391, os quatro mártires canonizados pelo Papa Paulo VI no dia 21 de julho de 1970: Nicolò Tavelich (croata), Stefano da Cuneo (italiano) e Deodato da Rodez e Pietro da Narbona (franceses). A respeito destes mártires, no discurso pronunciado pelo Papa durante a cerimónia de canonização, dentre outras coisas foi afirmado: “estamos diante de um testemunho paradoxal, contrastante e vão, porque foi logo acolhido, mas de grande preciosidade, porque foi autenticado com o dom da própria vida”.

Seja como for,
a presença dos franciscanos na Terra Santa está, sobretudo ligada aos santuários e à manutenção dos Lugares Santos, mesmo porque, analisando mais profundamente, todas as outras actividades se criaram partindo da ligação com os santuários e se fortificaram por causa da grande importância que tinham perante toda a Igreja. Desde o início deste período, que nomeamos como período de organização, os franciscanos empenharam-se em reconstruir os santuários da Terra Santa que com o tempo se encontravam em ruínas.

Em 1343 foi reformada a construção cruzada do Cenáculo. Em 1479, sob a vigilância do frei João Tomacelli de Nápoles, foi refeito toda a estrutura do telhado da Basílica da Natividade em Belém. Para concluir tamanha obra, frei João contou com a ajuda: da República de Veneza que doou a madeira necessária, Felipe o Bom que era Duque de Borgonha suportou as despesas dos trabalhos e Eduardo IV, rei da Inglaterra, doou o chumbo usado para a cobertura.
 
Os acontecimentos recordados neste período são muitos. É necessário recordar que os resultados positivos são todos fruto de negociações complexas e quase que intermináveis, na maior parte das vezes economicamente onerosas, mas enfrentadas sempre com imbatível tenacidade.

(in www.custodia.org)


quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A Custódia da Terra Santa - 1

A Custódia da Terra Santa



Quem peregrina à Terra Santa embate com uma realidade surpreendente de presença cristã: os Franciscanos da Ordem do Frades Menores, fundada por S. Francisco de Assis.

Os principais protagonistas dos Lugares Santos são os frades menores. Eles cumprem a sua missão nesta terra, impulsionados por seu fundador, São Francisco de Assis, que aqui os veio visitar em 1217.

“Custodiar significa antes de tudo amar, cuidar, estar ao alcance do coração, estar próximo. Custodiar, para nós hoje, significa estar sobre estes lugares, dar-lhes vida com a liturgia, pregando e animando-os”
Frei Pierbattista Pizzaballa, Custódio da Terra Santa

Importa pois conhecer a história desta presença contínua ao longo de 8 séculos.

1 - O período da fundação da Custódia da Terra Santa
Na prática a origem da Custódia da Terra Santa si dá em 1217, ano no qual, em Santa Maria dos Anjos, próximo de Assis, se celebra o primeiro Capítulo Geral dos Frades Menores. São Francisco, em um gesto inspirativo, decide mandar os seus frades a todas as nações. 


O mundo foi, por assim dizer, dividido em “Províncias” franciscanas e os frades, partindo de Assis, dividiram-se aos quatro pontos cardiais. Naquela solene ocasião, não foi esquecida a Terra Santa. Entre as onze Províncias-Mães da Ordem, apareceu também a Província da Terra Santa. Nos documentos foi apresentada com nomes diferentes: Província da Síria, da România ou Ultramarino. 

Esta Província era composta por Constantinopla e o seu império, pela Grécia e suas ilhas, pela Ásia Menor, Antioquia, Síria, Palestina, a ilha de Chipre, Egito e todo o resto do Oriente.

A Província da Terra Santa, seja pela vastidão do seu território, seja pela presença dos Lugares Santos, sempre foi vista com especial consideração. Era apresentada, desde o início, como sendo a “Província” mais importante da Ordem. Por isso, talvez, tenha sido confiada aos cuidados de frei Elias, um expoente na fraternidade que surgia, seja por seu talento organizativo, seja por sua vasta cultura. Seria interessante conhecer as iniciativas de frei Elias para organizar e consolidar esta Província da Ordem, levando em conta os problemas existentes naquele ambiente e por sua grande extensão geográfica.
O zelo e a qualidade de um bom governo que distinguiam frei Elias, devem ter-lo impulsionado, durante os anos de seu mandato, a lançar as bases do apostolado franciscano em todas as regiões situadas na Bacia Sul – Oriental do Mediterrâneo. 



Em 1219, o próprio São Francisco quis visitar pelo menos uma parte da Província da Terra Santa. Os documentos que relatam a presença do “Pobrezinho de Assis” entre os Cruzados, sobre os muros de Damieta, são do conhecimento de todos. Como também é conhecido o encontro de São Francisco com o Sultão Egípcio, Melek-el-Kamel, neto de Saladim o Grande. Os mesmos documentos relatam que Francisco, depois de ter deixado Damieta, dirigiu-se à Síria. 



De qualquer modo, a visita de São Francisco aos Lugares Santos se deu entre 1219 e 1220. Referente a isto Jacques de Vitry, bispo de São João de Acre (cidade conhecida como Tolemaida), escreveu: “O mestre desses frades, que é também o fundador da Ordem, chama-se Francisco. É amado de Deus e venerado por todos os homens. Veio ao nosso exército cheio de zelo pela fé. Não teve medo de passar até o campo dos inimigos”.

Durante sua breve viagem, São Francisco indicou aos futuros missionários franciscanos de que modo eles deveriam habitar naquelas regiões e qual seria o seu campo específico de atividades. No entender do “Pobrezinho”, a Evangelização deve ser feita amigavelmente e com extrema humildade, exatamente como ele fizera com o Sultão. Os Lugares Santos devem ser amados e venerados por sua estreita relação com os momentos mais significativos da vida de Cristo.



In, www.custodia.org

domingo, 19 de novembro de 2017

«Eis que Eu venho para morar no meio de ti»

Apresentação da Virgem Santa Maria
21 Novembro 2017




A Apresentação de Maria ao templo de Jerusalém é descrita apenas nos evangelhos apócrifos. O imperador Justiniano mandou construir junto desse templo uma basílica, Santa Maria a Nova, que foi dedicada no dia 21 de Novembro de 543. A memória litúrgica da Apresentação de Maria começou a ser celebrada em Constantinopla, no século VIII, espalhando-se pouco a pouco no Oriente. 

No Ocidente, esta festa também se desenvolveu lentamente. Em 1472 foi alargada a algumas igrejas latinas, parecendo no Missal Romano apenas em 1505. É uma daquelas festas que, no dizer de Paulo VI, «para além do dado apócrifo, propõem conteúdos de alto valor exemplar e dão continuidade a veneráveis tradições» (Marialis cultus 8).


Primeira leitura: Zacarias 2, 14-17

Rejubila e alegra-te, filha de Sião,
porque eis que Eu venho para morar no meio de ti
-      oráculo do Senhor.
Naqueles dias, muitas nações se unirão ao Senhor
e serão meu povo;
habitarei no meio de ti,
e saberás que o Senhor do universo me enviou a ti.
O Senhor possuirá Judá como sua porção na Terra Santa
e escolherá ainda Jerusalém.
Cale-se toda a criatura diante do Senhor,
porque Ele se eleva da sua morada santa.

Este oráculo é provavelmente da da época da reconstrução do Templo de Jerusalém, quando alguns israelitas ainda estão longe da pátria e surgem fortes esperanças de renascimento.

Os três versículos que escutamos são tirados da terceira das oito visões em que Zacarias escuta os oráculos do Senhor. Neles ecoa a convicção forte dos israelitas: Deus vive no meio do seu povo, a sua casa é o Templo de Jerusalém.

O texto de Zacarias confirma a fé, dá esperança robustece a atitude, porque o Senhor está no Templo, garante nele a sua morada, e anuncia a sua disponibilidade para acolher todos, israelitas e gentios. Esta presença, que provoca júbilo, há-de levar também à contemplação silenciosa do mistério.


Evangelho: Marcos 3, 31-35

Naquele tempo,
chegam sua mãe e seus irmãos que, ficando do lado de fora,
o mandam chamar.
A multidão estava sentada em volta dele,
quando lhe disseram:
«Estão lá fora a tua mãe e os teus irmãos que te procuram.»
Ele respondeu: «Quem são minha mãe e meus irmãos?»
E, percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele,
disse: «Aí estão minha mãe e meus irmãos.
Aquele que fizer a vontade de Deus,
esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.»


Jesus ultrapassa a crise aberta com os seus familiares, particularmente com a Mãe e os irmãos, alargando os limites da familiaridade com Ele a quem quer que que cumpra a vontade de Deus. Os verdadeiros familiares do Senhor são aqueles que «fazem» a vontade de Deus: «Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe» (v. 35).

Na perspetiva de Jesus, a vontade de Deus não há-de feita com a atitude de um escravo que executa ordens do dono, mas com o dinamismo e a criatividade de alguém que sabe escutar e ser coerente com a Palavra escutada.


(In, www.dehonianos.org)

«Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens.»

33º Domingo do Tempo Comum – Ano A
19 de Novembro de 2017





EVANGELHO – Mt 25,14-30

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo,
Disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola:
«Um homem, ao partir de viagem,
chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens.
A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um,
conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu.
O que tinha recebido cinco talentos
fê-los render e ganhou outros cinco.
Do mesmo modo,
o que recebera dois talentos ganhou outros dois.
Mas, o que recebera dois talentos ganhou outros dois.
Mas, o que recebera um só talento
foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos
e foi ajustar contas com eles.
O que recebera cinco talentos aproximou-se
e apresentou outros cinco, dizendo:
‘Senhor, confiaste-me cinco talentos:
aqui estão outros cinco que eu ganhei’.
Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel.
Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes.
Vem tomar parte na alegria do teu senhor’.
Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse:
‘Senhor, confiaste-me dois talentos:
aqui estão outros dois que eu ganhei’.
Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel.
Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes.
Vem tomar parte na alegria do teu senhor’.
Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse:
‘Senhor, eu sabia que és um homem severo,
que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste.
Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra.
Aqui tens o que te pertence’.
O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso,
sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei;
devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro
e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu.
Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez.
Porque, a todo aquele que tem,
dar-se-á mais e terá em abundância;
mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado.
Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores.
Aí haverá choro e ranger de dentes’».

AMBIENTE
Mais uma vez, o Evangelho apresenta-nos um extracto do “discurso escatológico” (cf. Mt 24-25), onde Mateus aborda o tema da segunda vinda de Jesus e define a atitude com que os discípulos devem esperar e preparar essa vinda.

A catequese que Mateus apresenta neste discurso tem em conta as necessidades da sua comunidade cristã. Estamos no final do séc. I (década de 80). Os cristãos, fartos de esperar a segunda vinda de Jesus, esqueceram o seu entusiasmo inicial… Instalaram-se na mediocridade, na rotina, no comodismo, na facilidade. As perseguições que se adivinham provocam o desânimo e a deserção… Era preciso reaquecer o entusiasmo dos crentes, redespertar a fé, renovar o compromisso cristão com Jesus e com a construção do Reino.

É para responder a este contexto que Mateus reelabora o “discurso escatológico” de Marcos (cf. Mc 13) e compõe, com ele, uma exortação dirigida aos cristãos. Lembra-lhes que a segunda vinda do Senhor está no horizonte final da história humana; e que, até lá, os crentes devem “pôr a render os seus talentos”, vivendo na fidelidade aos ensinamentos de Jesus e comprometidos com a construção do Reino.

A parábola que hoje nos é proposta fala de “talentos” que um senhor distribuiu pelos servos. Um “talento” significa uma quantia muito considerável… Corresponde a cerca de 36 quilos de prata e ao salário de aproximadamente 3.000 dias de trabalho de um operário não qualificado.

MENSAGEM
A “parábola dos talentos” conta que um “senhor” partiu em viagem e deixou a sua fortuna nas mãos dos seus servos. A um, deixou cinco talentos, a outro dois e a outro um. Quando voltou, chamou os servos e pediu-lhes contas da sua gestão. Os dois primeiros tinham duplicado a soma recebida; mas o terceiro tinha escondido cuidadosamente o talento que lhe fora confiado, pois conhecia a exigência do “senhor” e tinha medo. Os dois primeiros servos foram louvados pelo “senhor”, ao passo que o terceiro foi severamente criticado e condenado.

Provavelmente a parábola, tal como saiu da boca de Jesus, era uma “parábola do Reino”. O amo exigente seria Deus, que reclama para Si uma lealdade a toda a prova e que não aceita meias tintas e situações de acomodação e de preguiça. Os servos a quem Ele confia os valores do Reino devem acolher os seus dons e pô-los a render, a fim de que o Reino seja uma realidade. No Reino, ou se está completamente comprometido, ou não se está.

Depois, Mateus pegou na mesma parábola e situou-a num outro contexto: o da vinda do Senhor Jesus, no final dos tempos… A vinda do Senhor é uma certeza; e, quando Ele voltar, julgará os homens conforme o comportamento que tiverem assumido na sua ausência.
Nesta versão da parábola, o “senhor” é Jesus que, antes de deixar este mundo, entregou bens consideráveis aos seus “servos” (os discípulos). Os “bens” são os dons que Deus, através de Jesus, ofereceu aos homens – a Palavra de Deus, os valores do Evangelho, o amor que se faz serviço aos irmãos e que se dá até à morte, a partilha e o serviço, a misericórdia e a fraternidade, os carismas e ministérios que ajudam a construir a comunidade do Reino… Os discípulos de Jesus são os depositários desses “bens”. A questão é, portanto, esta: como devem ser utilizados estes “bens”? Eles devem dar frutos, ou devem ser conservados cuidadosamente enterrados? Os discípulos de Jesus podem – por medo, por comodismo, por desinteresse – deixar que esses “bens” fiquem infrutíferos?

Na perspectiva da nossa parábola, os “bens” que Jesus deixou aos seus discípulos têm de dar frutos. A parábola apresenta como modelos os dois servos que mexeram com os “bens”, que demonstraram interesse, que se preocuparam em não deixar parados os dons do “senhor”, que fizeram investimentos, que não se acomodaram nem se deixaram paralisar pela preguiça, pela rotina, ou pelo medo.

Por outro lado, a parábola condena veementemente o servo que entregou intactos os bens que recebeu. Ele teve medo e, por isso, não correu riscos; mas não só não tirou desses bens qualquer fruto, como também impediu que os bens do “senhor” fossem criadores de vida nova.

Através desta parábola, Mateus exorta a sua comunidade no sentido de estar alerta e vigilante, sem se deixar vencer pelo comodismo e pela rotina. Esquecer os compromissos assumidos com Jesus e com o Reino, demitir-se das suas responsabilidades, deixar na gaveta os dons de Deus, aceitar passivamente que o mundo se construa de acordo com valores que não são os de Jesus, instalar-se na passividade e no comodismo, é privar os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos a que têm direito.

O discípulo de Jesus não pode esperar o Senhor de mãos erguidas e de olhos postos no céu, alheado dos problemas do mundo e preocupado em não se contaminar com as questões do mundo… O discípulo de Jesus espera o Senhor profundamente envolvido e empenhado no mundo, ocupado em distribuir a todos os homens seus irmãos os “bens” de Deus e em construir o Reino.


(In, www.dehonianos.org)